quarta-feira, setembro 30, 2009

Lula vai apostar em um discurso emocionante

Entre outras coisas, ele vai ressaltar um Brasil moderno

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou ontem, antes de embarcar para Copenhague, na Dinamarca, o discurso que fará na defesa da candidatura do Rio para sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Na apresentação de cerca de cinco minutos, prevista para acontecer antes da eleição de sexta-feira, ele fará um apelo emocional e, ao mesmo tempo, ressaltará um Brasil “moderno”, que saiu da crise financeira antes de outras nações importantes e está pronto para realizar pela primeira vez o evento na América do Sul.

No dia da eleição, cada cidade terá 1 hora e 10 minutos para fazer uma apresentação final da candidatura. O Rio será a terceira da lista, depois de Chicago e Tóquio, mas antes de Madri. A participação brasileira está prevista para começar às 7h05 (de Brasília), sendo que Lula será responsável pelo discurso de encerramento. Antes disso, porém, o presidente terá, já a partir de hoje, uma série de encontros com membros do COI para pedir votos no pleito.

Assessores do governo brasileiro minimizaram os possíveis impactos da decisão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de comparecer a Copenhague para defender a candidatura de Chicago. Na tarde de ontem, o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, observou que Lula está há “dois anos” engajado na defesa do Rio.

Marcelo Baumbach lembrou que, no ano passado, o presidente brasileiro esteve na abertura da Olimpíada de Pequim, visitou o canteiro de obras do parque olímpico dos Jogos de Londres-2012 e acompanhou a comissão técnica do COI na visita ao Rio. “O Brasil e a cidade do Rio estão prontos para receber os Jogos de 2016”, disse o porta-voz. “O País vive excelente momento econômico e representa a América do Sul, com seus quase 400 milhões de habitantes e seu desejo de realizar pela primeira vez os Jogos”.

Um auxiliar de Lula contou que o presidente aproveitou suas viagens ao exterior para pedir votos a integrantes do COI. Em visita a Roma, no ano passado, ele conversou com três dos quatro italianos que participam do colégio eleitoral da entidade. Na comitiva do presidente Lula estão os ministros Orlando Silva (Esporte), Tarso Genro (Justiça), Franklin Martins (Comunicação Social) e Luiz Barreto (Turismo), além do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Hoje, já em Copenhague, Lula participará de jantar com o governador do Rio, Sérgio Cabral, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e membros do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Amanhã, ele também estará no almoço oferecido pela rainha da Dinamarca, Margareth II, a dirigentes esportivos e políticos.

Paulo Coelho

Em uma tática para conseguir votos na eleição de sexta-feira, a comitiva brasileira promove hoje um jantar do escritor Paulo Coelho com as esposas dos membros do Comitê Olímpico Internacional (COI). O encontro, mantido em total sigilo, ocorrerá em um elegante restaurante de Copenhague. Enquanto isso, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o ex-presidente da Fifa, João Havelange, já receberam ontem, do outro lado da cidade dinamarquesa, alguns dos mais poderosos eleitores no pleito da sede da Olimpíada de 2016.

A pacata cidade dinamarquesa se transformou ontem em um grande campo de lobby. Paulo Coelho ficará encarregado de mostrar às esposas dos membros do COI uma dimensão nova do Rio e do Brasil. Mas a busca por votos envolveu todos os tipos de estratégias. Chicago, por exemplo, organizou sessões de jazz para alguns dos eleitores. Enquanto Madri e Tóquio, as outras duas candidatas, também adotaram suas táticas para conseguir a vitória na eleição de sexta-feira. “Esse é o campo de jogo. Adoro essa adrenalina”, disse o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, ao falar sobre o lobby feito pelas quatro candidatas nos dias que antecedem a eleição. “Temos um dos planos mais completos de uma cidade na fase de candidatura da história”, completou o dirigente, empolgado com a chance de vitória.

Candidatas estão em clima de guerra

Na reta final de campanha para a eleição da sede da Olimpíada de 2016, as candidatas abandonam a diplomacia e abrem guerra. Dentro desse clima, o Rio se queixou ao Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre as declarações do prefeito de Chicago, Richard Daley, que disse que a cidade brasileira não teria como sediar os Jogos. Os norte-americanos, por sua vez, já ameaçaram partir para o contra-ataque.

Na sexta-feira, o COI escolherá a sede dos Jogos Olímpicos de 2016, na eleição que está sendo considerada a mais acirrada da história. Chicago, Rio, Tóquio e Madri estão no páreo. E, pelas regras da entidade, uma cidade está proibida de criticar a outra publicamente, podendo falar apenas de sua própria candidatura. Mas os brasileiros acusaram os norte-americanos de terem passado dos limites.

O problema teria sido uma entrevista dada pelo prefeito de Chicago ao jornal norte-americano “Chicago Tribune” no dia 22 de setembro. Para Richard Daley, a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, afetaria as chances do Rio na disputa da sede olímpica de 2016 e seria positiva para Chicago. Na ocasião, ele colocou em dúvida a capacidade da cidade brasileira de realizar os dois eventos em tão curto espaço de tempo.

O presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, evitou o quanto pôde dar esclarecimentos da queixa apresentada contra Chicago. Para ele, caberia ao Comitê de Ética do COI dar uma resposta sobre o assunto. “São eles que precisam dizer algo”, afirmou o dirigente. Mas Leonardo Gryner, diretor de marketing da candidatura brasileira, confirmou a realização do protesto.

O porta-voz do COI, Mark Adams, revelou que um processo formal sobre o caso não foi iniciado e deu indicações que a entidade não levaria o tema adiante para evitar contaminar a eleição. Mesmo assim, ele pediu calma aos envolvidos. “Em momentos como esse, cidades são muito emotivas em relação às suas candidaturas. Mas lembramos a todos que, com dois dias para a votação, simplesmente pedimos a todos que se limitem em seus comentários que possam ser críticos”, apelou.

“Eu não disse nada disso”, rebateu Richard Daley, ontem, durante entrevista coletiva em Copenhague, quando foi perguntado sobre as críticas que teria feito ao Rio. O chefe do comitê de candidatura de Chicago, Pat Ryan, chegou a ameaçar um contra-ataque, dizendo ter motivos para abrir um processo contra a campanha brasileira. “Mas optamos por não seguir esse caminho”, disse.

Organizadores cometem gafe com Pelé

O evento seria para promover a paz e a integração de estrangeiros na cada vez mais intolerante Europa. E o convidado de honra era Pelé. Mas, por um erro da organização, a trilha sonora foi o grito de torcidas organizadas brasileiras promovendo a violência.

Ontem, Pelé foi prestigiar um jogo de futebol de rua nos arredores de Copenhague. O local é financiado pela Unesco e reúne garotos africanos e árabes que vivem na Dinamarca. O ex-jogador brasileiro tirou fotos, foi aplaudido e se emocionou. Mas quando a partida começou, os alto-falantes da quadra começaram a tocar uma música brasileira. Sem conhecer a letra, os organizadores dinamarqueses escolheram uma canção baseada no grito de guerra da torcida organizada do São Paulo: “Sou Independente, eu sou. Vou dar porrada, eu vou. E nem a PM vai me segurar”.

Ao terminar a partida, Pelé falou com mais de cem jornalistas que foram ouvi-lo no evento e garantiu que o Brasil tem condições políticas e econômicas para organizar a Olimpíada de 2016 - ele está em Copenhague como membro da comitiva do Rio para a eleição do Comitê Olímpico Internacional (COI) na sexta-feira.

Assim como tinha feito no dia anterior, Pelé minimizou a importância da presença do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na eleição em Copenhague. “A gente não compete com Obama. Nós competimos contra Madri, Tóquio e Chicago”, enfatizou o ex-jogador.

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